9 de fevereiro de 2016

ENXURRADA de dejetos no Norte da Ilha abala imagem da capital

Angelo Poletto Mendes/Redação JC

Às vésperas de confirmar a melhor temporada dos últimos tempos, com um incremento no número de visitantes que já beiraria os 30% sobre a temporada anterior, a capital catarinense vive também um paradoxo. Embora esse ótimo desempenho reafirme a condição da capital como destino de ponta do mercado nacional, esse status chega ao final do verão ameaçado pela tragédia Muro EEdo vazamento de esgoto que contaminou a praia de Canasvieiras, no Norte da Ilha.
Castigado por esgoto irregular há mais de duas décadas e sobrecarregado no período entre o pós-Natal e começo do ano por defeito pontual na rede da Casan, o Rio do Brás, que desemboca no mar de Canasvieiras, lançou uma verdadeira enxurrada de dejetos na outrora charmosa ‘praia dos argentinos”, vizinha à badalada Jurerê Internacional, no Norte da Ilha.
Além de deixar a praia imprópria para o banho, apesar de inúmeras ações voltadas a estancar a contaminação, o problema desencadeou um surto de virose entre veranistas e até a mortandade de peixes na vizinha Jurerê. A Prefeitura se apressou em garantir que os dois episódios não estavam vinculados à poluição do mar, mas a tragédia ambiental não escapou de virar notícia em todo o país e até no exterior, especialmente na Argentina.
Dirigentes do setor turístico acham que o problema abala a imagem da capital catarinense, embora considerem ainda precoce avaliar a extensão do dano e seu eventual impacto na próxima temporada. “Esse problema não será esquecido assim de uma hora para outra; as regiões mais afetadas tendem a pagar o pato, mas pode influir também na decisão dos turistas pelo destino Florianópolis como um todo”, sentencia o ex-presidente da Associação de Pousadas da capital (Pousar), Talmir Duarte da Silva.
Dono de dois estabelecimentos no Campeche, o hoteleiro lembra que o noticiário externo sobre o problema faz distinção mínima sobre o balneário atingido, colocando em linhas gerais toda a cidade na vala comum da tragédia do esgoto. “Que vai ter algum impacto, disso não resta dúvidas, embora ainda seja muito difícil dimensionar o tamanho”, assinalou. “O que joga a nosso favor é o fator tempo”, atenuou Silva.
Sócio de badalado restaurante no Sul da Ilha, o comerciante Arante Monteiro Filho também vê no fator tempo um aliado para resgate da imagem da capital. “O povo esquece tudo muito rápido e Florianópolis é um dos três destinos mais cobiçados do Brasil”, ponderou. O reflexo do episódio, para ele, será muito restrito e tende a influenciar apenas pequena fatia do turista nacional. Em relação aos argentinos, o determinante será a cotação do dólar. “Se estiver favorável, ele voltam”, afirmou.
REFLEXOS EM 2017 – Um dos presidentes mais longevos da história da Santa Catarina Turismo (Santur), no comando da entidade desde 2007, o presidente Valdir Walendowski garante que a tragédia do esgoto capital não terá influência no desempenho da próxima temporada em Santa Catarina. “Não tenho nenhum medo de afirmar que nosso destino é muito superior a esse problema pontual; o risco é zero de interferir na próxima temporada”, assinalou.
O dirigente admite que a repercussão que o problema alcançou é ruim, mas não vê ameaça ao futuro do turismo catarinense. “Não tenho pretensão de esconder o sol com a peneira, mas já enfrentamos outros problemas graves, como falta de água, luz e até enchentes, e superamos todos”, argumentou. “Somos o único estado que emite relatórios de balneabilidade, que tem a coragem de expor o problema, isso também precisa ser levado em conta”, completou.
A secretária municipal de Turismo, Zena Becker, também acredita que a transparência na divulgação da situação das praias conta a favor do estado. O secretário estadual de Turismo, Filipe Melo, confia que o problema registrado em Canasvieiras é pontual, e não compromete a imagem de Santa Catarina. “Temos um litoral com mais de 65% de pontos próprios para banho”, destacou. (Foto: Divulgação/Arquivo/JC)