28 de julho de 2006

Circo promove cidadania na Praia da Armação

Mais do que apenas diversão, o exercício da arte circense pode ser uma ótima alternativa para ensinar lições importantes de cidadania a crianças e jovens em situação de risco, permitindo-lhes fugir dos tentadores caminho do crime e da violência. Essa é a proposta do inovador projeto Bethesda Circo Escola, que funciona no Rio Tavares e Armação há dois anos, ministrando aulas gratuitas, duas vezes por semana, a cerca de 80 alunos dessas comunidades. A proprietária da escola e coordenadora do projeto, Elisabete Mondini, acredita que o circo ajuda esses jovens a se sentirem úteis, trazendo-lhes bem-estar e disciplina. “Vemos o resultado disso no dia-a-dia, pois somos sempre notificados pelos pais sobre a mudança de comportamento em relação à disciplina fora de nossas aulas, com a melhoria na escola e no lar, além do desenvolvimento técnico dentro do Bethesda”, explica. Mondini revela que gostaria de ampliar o número de vagas e transformar o espaço num centro cultural, porém esbarra na dificuldade em obter apoio para o projeto, inclusive de órgãos públicos. “Existe falta de entendimento para com o objetivo, que não se resume apenas em ensinar cambalhotas e malabarismo, mas sim criar novos equilibristas da vida, que nunca se vêem derrotados por uma simples situação, seja ela financeira ou sentimental”, pondera. A coordenadora garante que o circo-escola nunca recebeu sequer atenção da Secretaria Municipal de Cultura. “Eles nem devem saber da nossa existência”, lamenta. Os únicos recursos repassados à escola vieram da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e esgotaram-se há dois meses, tornando ainda mais difícil o andamento do trabalho social. A dirigente informa que o Bethesda também oferece aulas particulares a crianças e adultos para manter o espaço, mas admite que, sem o dinheiro da Funarte, o futuro da escola é incerto. Existem apenas dois circos-escolas em funcionamento em Santa Catarina. Ela informa que as aulas no projeto são planejadas conforme o desenvolvimento dos alunos, com metas semanais, incluindo técnica e preparação para situações que podem ocorrer nas vidas dos alunos, tanto individualmente quanto em relação ao envolvimento com outras pessoas. “A cultura circense, na verdade, não é o melhor meio de vida se formos analisar a real situação de nossos artistas itinerantes, mas é uma disciplina que engloba muitas áreas, abrindo um grande leque para sabermos que sempre existe algo que possamos aproveitar, e que só se pode atingir um objetivo se a auto-disciplina for o ingrediente principal”, analisa. As aulas são ministradas pela própria Mondini, que tem 13 anos de experiência circense, e o professor Maximiliano Rocha, que atuou em alguns dos principais circos do Brasil, como o Marcos Frota Circo Show e o Circo Popular do Brasil. O circo-escola também realiza dois espetáculos, chamados “O Bem e o Mal” e “Alegria do Sul”, o último com os alunos mais avançados. “Nesses shows, as crianças se sentem, pela primeira vez, verdadeiros artistas circenses, saindo da escola para mostrar os seus dons em verdadeiros palcos e picadeiros, sem ter que expor suas técnicas em sinaleiras”, defende Mondini, já que às vezes, por falta de espaços, muitos jovens fazem apresentações desse gênero junto aos sinais de trânsito. A primeira apresentação dos jovens do Bethesda foi realizada no final de maio, na Lagoa do Peri. (Texto: Alexandre Winck/Especial/JC)/(Foto: Luís Prates/Divulgação/JC)