Os moradores mais antigos do Campeche costumam lembrar com certa nostalgia de um tempo em que a região era pacata, de belezas naturais intocadas e atraía raros forasteiros. Esse tempo, infelizmente, não existe mais, até porque as pessoas mudam, o progresso é inevitável e seus efeitos irreversíveis na história das comunidades. Hoje o Campeche e região ostentam uma condição muito diferente do passado, com a chegada de uma grande leva de migrantes das mais diversas origens que aqui se fixaram, constituíram suas famílias e desenvolveram seus negócios. Ao invés de discriminar e perseverar numa luta inócua contra tais “invasores” que, salvo raras exceções, vêm para a região com o intuito de conquistar melhor qualidade de vida para si e suas famílias e, por fim, trazer progresso para a própria região, a comunidade precisa agora unir suas forças para lutar contra uma ameaça muito mais perigosa, que põe em risco o futuro da qualidade de vida na região: a especulação imobiliária. A par dos benefícios que trouxe para os moradores e empreendedores, a inauguração em dezembro do último trecho de 440 metros da Via Expressa Sul, que alivia o drama dos congestionamentos e agiliza o acesso ao Sul da Ilha, também abre as portas para a ganância imobiliária. Embora seja inegável a importância da construção civil para a geração de empregos e para a própria economia, no curto prazo, a especulação sem escrúpulos costuma cobrar um preço muito caro a médio e longo prazos. Coincide com essa nova perspectiva o início de um novo governo municipal, a quem caberá a tarefa de nortear o futuro da região. Depois de um início conturbado, em função de questionamentos jurídicos que acabaram adiando a formação de sua equipe de governo, paira sobre o novo prefeito, Dário Berger, um clima de grande expectativa acerca de suas verdadeiras convicções. O Campeche definitivamente nunca mais será aquele que vive na memória dos mais antigos, mas não merece repetir modelos de desenvolvimento que fracassaram em outras regiões da Ilha.
24 de janeiro de 2005