6 de setembro de 2005

Memória negligenciada

O recente incêndio que destruiu quase metade do prédio centenário do Mercado Público de Florianópolis na segunda quinzena de agosto, provocando um clima de intensa comoção na população da capital, expôs claramente à sociedade muito mais do que fumaça negra e escombros. Revelou a triste realidade de descaso que envolve a preservação dos prédios históricos que, muito além de simples edificações antigas, são verdadeiros arquivos da memória e cultura do povo da capital e de Santa Catarina. O fogo que consumiu de forma inapelável a ala norte do Mercado Público, justamente a parte mais antiga da edificação construída em 1889, é ainda mais emblemático porque foi precedido de recorrentes alertas sobre as condições precárias de sua rede elétrica, que poderiam desencadear tal incêndio. Mesmo que o sinistro não tenha origem específica nesse problema, é imprescindível que o fato reacenda as discussões acerca do papel de governos e sociedade na proteção de seus patrimônios históricos. Embora sejam conhecidas às limitações orçamentárias dos governos, urge que se defina uma ampla política de preservação dos prédios históricos que, com raríssimas exceções, se encontram em situação em risco. Na capital, outro ícone do patrimônio histórico de Florianópolis, a Ponte Hercílio Luz agoniza há mais de uma década. A catedral metropolitana precisou sofrer interdição para chamar a atenção dos governantes e, felizmente, passa por obras. É necessário, no entanto, que não sejam esquecidos também os prédios históricos de menor envergadura e status, mas não por isso menos importantes, que grassam no interior da Ilha. Como é o caso, por exemplo, da Igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Ribeirão da Ilha, que às vésperas de completar 200 anos se encontra sob ameaça de desmoronamento. A recuperação de monumentos poderia até se tornar auto-sustentável, futuramente, através da criação de roteiros históricos e culturais, propiciando ainda uma alternativa ao tradicional turismo de praias na Ilha de Santa Catarina.