27 de julho de 2007

A dor da saudade

“Não, não, a morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver.” (Rubem Alves) Nada é mais inevitável que a morte, talvez a única certeza que temos. Mais cedo ou mais tarde, temos que lidar com a perda de um ente querido, sua repentina ausência em nossa rotina diária e normalmente, não estamos preparados para enfrentá-la. O luto envolve diversas fases que devem ser desenvolvidas recebendo o suporte e apoio necessários para que possamos superar e conviver da melhor forma possível com a dor da saudade. Todavia, os cuidados devem ser redobrados quando se trata de uma pessoa de meia idade, pois, com o passar do tempo, há uma série de fatores presentes como as perdas significativas, o surgimento de doenças crônicas deteriorando a saúde, a ausência de papéis sociais valorizados, o isolamento e dificuldades financeiras decorrentes da aposentadoria. Tais mudanças afetam muito a auto-estima. E se for somado a isso a viuvez e a perda de amigos próximos, poderá desencadear uma crise, há uma tendência maior ao desenvolvimento de uma depressão ou a um isolamento ainda mais significativo. De acordo com pesquisadores, no luto estão presentes diferentes fases. Na primeira, a pessoa vive o desespero, a raiva e a aflição. Em seguida, vem a saudade e o desejo intenso de estar na presença da pessoa que partiu. Com o passar do tempo, aquele que ficou começa a se sentir desorientado, pois percebe que a vida já não é a mesma. Um forte sentimento de tristeza, apatia, lamentação e falta de sentido na vida toma conta do indivíduo, e caso esta etapa não seja superada, a pessoa pode sucumbir à depressão. Por fim, caso a pessoa tenha ajuda (seja de amigos, familiares ou profissionais) para enfrentar a angústia do momento anterior, ela pode, por fim, atingir a fase de organização e readaptação à rotina, sentindo novamente prazer em viver. Normalmente, a situação de viuvez é vivenciada mais entre as mulheres, que têm uma expectativa de vida maior que a dos homens. Um estudo realizado pelo autor Lopata, identificou três fases no processo de perda para as mulheres. Na primeira fase, tem-se a tristeza profunda pela perda. Nesta fase é importante desatar os laços com o marido e transformar em lembranças todas as experiências compartilhadas. É importante encorajar a mulher a falar sobre seus sentimentos e emoções referentes a esta perda para que o luto possa ser desenvolvido. A segunda fase, normalmente, vem após um ano e caracteriza-se pela atenção à nova rotina, para o funcionamento das tarefas domésticas. O grande problema é a consciência de estar fisicamente sozinha, sem o companheiro. Nesta fase, faz-se necessário o apoio de amigos, familiares e psicólogos que auxiliem no processo. Dentro de um ou dois anos, tem-se a terceira e última fase que é o reinício do interesse pelos outros e para novas atividades. A forma como o idoso vai lidar com a viuvez vai depender dos recursos que ele tiver tanto internamente, como a coragem e a criatividade, quanto externamente, com a possibilidade de tratamentos, apoio e proximidade de amigos e familiares. Durante o período de luto, é normal pessoa encontrar-se em um estado de vulnerabilidade física, podendo apresentar uma gama de transtornos físicos e emocionais, em decorrência de sua fragilidade. Por isso, é importante que ela procure manter uma rotina de cuidado consigo mesma, o que inclui o exercício físico freqüente, um sono de qualidade, uma alimentação balanceada, e a dedicação a tarefas prazerosas. É interessante que o idoso, além de receber a ajuda de amigos e familiares, também faça parte de um grupo que seja uma referência para ele, com encontros regulares e interesses em comum a serem compartilhados. Desta forma, o grupo pode vir a auxiliar e facilitar as modificações e transformações pelas quais o idoso está passando, além de servir de suporte nas horas mais difíceis. Vale lembrar que para aqueles que convivem com alguém que perdeu o companheiro ou companheira, o importante é saber compreender o momento da dor da viuvez. Saber ouvir, respeitar o silêncio e se fazer presente quando necessário fazem toda diferença. Para aqueles que estão sofrendo com a viuvez, é importante que não desistam da vida, que não se isolem ou deixem de procurar apoio para este momento tão difícil. É preciso passar pelas fases do luto e transformar a dor da saudade em lembranças boas da história que foi compartilhada e vivida. “Quando fizermos todo o trabalho que fomos enviados à Terra para fazer, temos permissão para deixar nosso corpo que aprisiona a nossa vida como um casulo encerra a futura borboleta […] voltando para casa, para Deus, para um lugar onde nunca estamos sozinhos, onde continuamos a crescer, a cantar e a dançar; onde estamos com aqueles que amamos (que deixaram seus casulos antes de nós); e onde estamos cercados de mais amor do que você jamais pôde imaginar.” (Kubler-Ross) Milena Francener Deschamps Psicóloga, especialista em Terapia Familiar